Durante décadas, designers e criativos que usam Linux conviveram com uma frustração consistente: a ausência de ferramentas profissionais equivalentes às da Adobe. A comunidade pediu, insistiu e esperou. Mesmo assim, a Adobe nunca demonstrou interesse real em portar seus aplicativos para Linux.
Hoje, a situação mudou. E mudou por causa de um nome que muitos já respeitam: Affinity. Agora sob o guarda-chuva da Canva, a suíte deu sinais de que pode ocupar o espaço que a Adobe ignorou por tantos anos.
Este artigo é para quem vê futuro no design profissional em plataformas abertas — e torce para que um dia possamos usar Affinity de forma nativa no Linux.
A frustração histórica com a Adobe
A expectativa por ferramentas profissionais no Linux não é nova. Por muito tempo, a comunidade imaginou que a Adobe poderia expandir suporte ao sistema. Mas nunca houve um gesto claro nessa direção. Em discussões públicas e fóruns, a posição implícita sempre foi: não vale a pena investir.
O resultado? Profissionais precisaram recorrer a Wine, máquinas virtuais, dual boot ou alternativas que nem sempre atendem às demandas do mercado.
Por que o Affinity reacendeu a esperança
A Affinity sempre manteve uma relação próxima com sua comunidade. Mesmo quando a empresa (na época Serif) dizia não ter planos para Linux, a resposta vinha acompanhada de respeito e transparência. Tanto que, em 2018, no Fórum Oficial da Affinity, a própria equipe reconheceu que “não havia planos para uma versão Linux no momento” (fonte: Fórum Affinity, 2018).
Mas tudo mudou após a aquisição pela Canva em 2024.
Além de alterar o modelo de negócio e tornar a Affinity mais acessível, a nova direção começou a avaliar possibilidades que antes eram descartadas.
Em novembro de 2025, o líder global de marketing da Affinity, Liam Fisher, declarou publicamente que a empresa estava considerando seriamente portar a suíte para Linux (fonte: Diolinux, 29/11/2025). Esse é, até hoje, o posicionamento mais próximo de um “sim” oficial.
Para uma comunidade que sempre sonhou em usar Affinity de forma nativa no Linux, isso foi o suficiente para reacender o debate — e a esperança.

Os sinais vindos da comunidade Linux
Enquanto a Affinity analisa internamente a possibilidade, a comunidade faz sua parte.
Projetos como AffinityOnLinux, hospedados no GitHub, provam que existe demanda real e que os apps funcionam, ainda que com limitações, através de Wine. Outro projeto, affinity-cli, deixa explícito no repositório que um de seus objetivos é mostrar à Affinity que há mercado para uma versão nativa.
Esse movimento da comunidade gera visibilidade. E visibilidade importa — especialmente agora.
Quem se beneficia com uma versão oficial no Linux?
Uma versão da Affinity de forma nativa no Linux beneficiaria três grupos principais:
1. Profissionais criativos
Designers, ilustradores e fotógrafos que trabalham no Linux ganhariam uma ferramenta de padrão profissional sem precisar de workarounds.
2. A própria comunidade Linux
Com mais software profissional, o Linux ganha tração no desktop. Isso atrai novos usuários e quebra o ciclo de “pouco software porque há poucos usuários”.
3. A Affinity e a Canva
Entrar no ecossistema Linux é abrir um nicho relativamente subexplorado. Em um mercado onde a Adobe reina há décadas, diferenciação é valiosa.
Mas é realista esperar?
Sim — porém com cautela.
A declaração de Liam Fisher mostra que o tema entrou na pauta da Affinity. Isso nunca aconteceu de forma tão clara antes.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer os desafios:
- o Linux desktop ainda representa uma fatia pequena do mercado profissional;
- cada distribuição tem suas particularidades, o que aumenta custo de suporte;
- a Canva pode priorizar integrações internas e funcionalidades web antes de entrar em um novo ecossistema;
- o port exigiria investimento continuado, não apenas um lançamento.
Mesmo assim, o momento atual é o mais promissor desde que a suíte foi criada. A empresa está se reposicionando, expandindo e buscando se diferenciar da Adobe. Uma versão Linux faria exatamente isso.
Conclusão: a esperança está mais viva do que nunca
A Adobe ignorou o Linux por décadas. Mas a Affinity parece disposta a olhar com mais cuidado — e, pela primeira vez, existe uma declaração pública confirmando que o assunto está sendo discutido internamente.
A comunidade está mais organizada. Os testes com Wine estão mais consistentes. Há provas de que existe um público fiel. E há motivação estratégica para a Canva.
Não sabemos se veremos a Affinity de forma nativa no Linux amanhã ou daqui a alguns anos. Mas uma coisa é certa: nunca estivemos tão perto.
Se a Affinity realmente abraçar esse desafio, poderá se tornar a parceira que o público criativo do Linux esperou por décadas.
E pode ter certeza: esse assunto está definitivamente no radar do Estação Aberta. Vamos acompanhar cada novo movimento da Affinity e trazer atualizações sempre que algo concreto surgir. Enquanto isso, quero saber de você: o que acha da possibilidade de termos a Affinity de forma nativa no Linux? Deixe seu comentário e vamos continuar essa conversa juntos.

